Novos olhares sobre a vida, as pessoas e o mundo vêm se desenvolvendo longe dos ambientes tradicionais de formação, produção e difusão de cinema e vídeo no país. Inseridos em diferentes espaços de exclusão, seja na periferia dos centros urbanos, nas vilas rurais ou nas aldeias indígenas, jovens participantes de projetos desenvolvidos por organizações da sociedade civil têm descoberto, por meio do uso de tecnologias de informação e comunicação, um novo canal de expressão e uma fonte de reflexão e aprendizado sobre a realidade.
No entanto, as múltiplas experiências de protagonismo juvenil, a partir da interação entre cinema, educação e cidadania, são desconhecidas da maior parte do público devido à falta de acesso da produção jovem aos circuitos de difusão.
Contrária a esse isolamento, uma rede de instituições sociais começou a discutir ações para dar visibilidade à produção vinda dos segmentos populares da sociedade. Um dos resultados dessa integração é o Festival de Jovens Realizadores do Audiovisual do Mercosul, cuja terceira edição se realizará de 18 a 22 de setembro, em Vitória.
Pioneira na divulgação da produção audiovisual das ONGs, a mostra reunirá iniciativas do Espírito Santo, Ceará, Pernambuco, São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, entre outros Estados, além de produções da Argentina e do Uruguai. Neste ano, o festival exibirá 55 curtas-metragens vindos de 33 projetos sociais. Trata-se de uma oportunidade para exibição dos trabalhos, aprimoramento de técnicas, reflexão de conteúdos, troca de experiências e articulação de propostas capazes de valorizar a rica e diversificada produção audiovisual jovem nascida nas organizações sociais.
A criação de espaços para exibição e discussão dos trabalhos, inclusive nas TVs públicas, é apenas um dos aspectos da democratização do acesso dos jovens aos recursos, técnicas e conteúdos audiovisuais. Outros desafios são a absorção desses realizadores pelo mercado e a inclusão do conhecimento audiovisual nos currículos do ensino fundamental e médio das escolas públicas.
O cinema e o vídeo são linguagens contemporâneas que, para os segmentos socialmente discriminados (crianças e jovens da rede pública, moradores de bairros populares e das pequenas cidades, populações indígenas), constituem-se em instrumentos de transformação individual e coletiva, de contestação, de resgate da memória, de profissionalização e de resistência cultural.
Beatriz Lindenberg é coordenadora do Instituto Marlin Azul e do Festival de Jovens Realizadores de Audiovisual do Mercosul
* Artigo publicado na edição de 12 de setembro de 207 do jornal A Gazeta (Vitória)
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